De imediato, fizemos a análise do conteúdo considerando as seguintes observações:
• A realidade atrativa e transformadora da Presença de Jesus – uma dinâmica inclusiva
• A característica “apostólica” da comunidade dos discípulos de Jesus
• A Igreja como uma comunidade terapêutica
• A Igreja como uma comunidade escatológica
• O fundamento absoluto do amor
• A ética da igreja demonstra os frutos da presença do Reino de Deus entre nós
Vale observar a princípio, entretanto, que tal crise de ética e honestidade, como observou Ricardo Agreste de maneira coerente e feliz, não é uma característica exclusiva da “igreja”, mas da sociedade como um todo. Há muitos anos tenho visto em diversos lugares alguns adesivos em automóveis com a declaração: “A crise é de ética”. Porém, é claro, isso não minimiza o fato de que a igreja deve ser uma agência de transformação da sociedade, a partir dos princípios e valores do Reino de Deus ensinados e vivenciados por Jesus, e esperado de seus discípulos. É por isso que Jesus enaltece o caráter dos verdadeiros discípulos do Reino, que tem suas vidas marcadas pela esperança, fé e amor, mesmo que isso custe “pobreza”, “fome”, “choro” e “exclusão” (ou perseguição por causa da identificação com Seu nome, Sua vida e Sua obra), e por outro lado lamenta que, mesmo entre a comunidade dos discípulos, outros tenham um estilo de vida caracterizado por “fartura” (têm e desejam mais do que precisam), “risos” (prazer existencial a partir de diversões e entretenimentos), “aprovação geral” por agradar a todos (elogiados por todo tipo de gente...) etc – Veja Lc. 6:20-26.
Creio que é bom lembrar que vivemos aqui, ao longo da jornada da vida, um verdadeiro processo de semeadura: somos comissionados para expandir o misterioso e “subversivo” Reino de Deus, para agirmos como sal e luz, enfim, para sermos referencial de “justiça, paz e alegria” (Rm. 14:17). Portanto, devemos viver intensamente nossa vida neste mundo com o propósito de sermos, de fato, a continuidade da manifestação da vida de Jesus e do poder do Reino de Deus, sem que isso se fundamente nas parafernálias periféricas proporcionadas por discursos moralistas – quase irracionais -, vocabulários “espiritualóides” e alienantes, liturgias sem conexão com a vida e com a proposta de experiência com o Eterno, exercícios de juízos sobre as pessoas e suas possíveis falhas, sectarização social (que faz dos religiosos da igreja não uma comunidade que existe para o bem estar de todos, mas um “gueto” social e cultural movido pela ambição de poder e conquistas, voltado exclusivamente para os seus próprios interesses etc.).
Como observou o apóstolo Paulo – que teve o propósito de lançar luz na aplicação prática do ensino de Jesus para todas as pessoas, em seus contextos específicos: “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá”(Gal. 6:7). Assim, principalmente nós os que nos consideramos discípulos de Jesus, devemos considerar atentamente o nosso estilo de vida diante da própria igreja e da sociedade na qual estamos inseridos.
Finalmente, é essencial refletirmos no que Jesus – nosso Senhor e referência absoluta – compartilhou que nos aguarda “naquele dia”, quando todas as nossas obras (resultantes do que realmente preenche nossos corações – Mc. 7:21) receberão então o julgamento adequado (não se trata aqui de lançar culpa sobre ninguém, mas nos fazer lembrados das palavras do Senhor dirigida aos seus discípulos):
“Quando o Filho do homem vier em sua glória, com todos os anjos, assentar-se-à em seu trono na glória celestial. Todas as nações serão reunidas diante dele, e ele separará umas das outras como o pastor separa as ovelhas dos bodes. E colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda.
Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Venham, benditos de meu Pai! ‘Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo. Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram’.
Então os justos lhes responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?’ O Rei responderá: ‘Digo-lhes a verdade: O que vocês fizeram a alguns dos meus menores irmãos, a mim o fizeram.’
Então ele dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno preparado para o Diabo e seus anjos. Pois eu tive fome, e vocês não me deram de comer; tive sede, e nada me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês não me acolheram; necessitei de roupas, e vocês não me vestiram; estive enfermo e preso, e vocês me não me visitaram’.
Eles também responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome ou com sede ou estrangeiro ou necessitado ou enfermo ou preso e não te ajudamos?’ O Rei responderá: ‘Digo-lhes a verdade: O que vocês deixaram de fazer a alguns destes mais pequeninos, também a mim deixaram de fazê-lo’." (Mt. 25:31-45).
Assim, minha gente, somos desafiados – dia a dia – a prosseguirmos semeando aquilo que Deus, pela habitação do Seu Espírito, tem colocado em nosso espírito: a semente da vida justa e abundante (Jo. 10:10). A nossa responsabilidade é agir em amor e obediência a Deus. O resultado, certamente, será a manifestação impactante e revolucionária dos frutos transformadores do Reino de Deus na vida de cada discípulo, na igreja e na sociedade.
Enfrentemos a crise constatada, com a mente e o coração encharcados do caráter de Deus, buscando ardentemente sermos cooperadores nas soluções, ainda que pequenas e despretensiosas, para algumas deficiências sociais provocadas pela mesma.
Paz e muita alegria a todos!
Celso Tavares
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