sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A SABEDORIA TAMBÉM PROPÕE MUDANÇAS - Celso Tavares

Dois amigos se encontraram num bar, depois de um dia de trabalho, assentaram-se à mesa e pediram uma bebida. Enquanto esperavam, um deles começou uma conversa que parecia apenas um suspiro bobo e ingênuo. O fato é que é a partir de suspiros assim, leves e espontâneos, é que surgem grandes descobertas e resoluções impactantes na vida. Nem eles pensavam que poderiam ir tão longe...

- Ah, meu amigo, como eu gostaria de ser diferente! - Suspirou em voz alta Vital, com um ar meio apreensivo.
- Como assim? Você sente desejo de ser diferente? - Perguntou Sávio, querendo entender melhor do que se tratava.
- Claro. Eu não sou perfeito!
- Ainda bem... Se o fosse, não estaríamos conversando agora. Mas, o que te faz sentir assim?
- Olha, eu sei muitas coisas, mas não consigo aplicar o que sei e gostaria à minha vida. Eu sei que diante de certas circunstâncias eu deveria falar e agir de maneira diferente.
- E por que você pensa que não pode mudar?
- Mudar? Bem, não é exatamente nisso que estou pensando. Eu também não estou tão mal assim!
- Ah, entendi - respondeu prontamente Sávio - Você deseja ser diferente, mas não quer mudar, certo?
- Certo. Mas, é que tenho sonhos que gostaria de realizar... mas, como sou hoje, sinto que será muito difícil que isso aconteça.
- Talvez seja porque eles demandem algum tipo de esforço que não queira fazer, o que acha?
- Pode ser. Mas, em que tipo de demanda você está pensando?

Naquele instante o garçom chegou e perguntou se gostariam de pedir algo para comer. Sávio, já conhecendo o gosto do amigo, pediu que lhes trouxessem uma porção de bolinhos de bacalhau. Porém, Vital o interrompeu apressadamente: "Você me conhece mesmo hein? Mas, hoje quero algo diferente: queria experimentar a porção desse rosbife que vi no cardápio. Pode ser?" Sávio deu uma risada, quase uma gargalhada - meio discreta - e comentou: "Tá vendo como é o negócio de mudar? A gente tem sempre que fazer escolhas!" O amigo riu e disse: "Tá bom... mas, me diga, em que tipo de demanda você estava pensando...
- Que tal começar a pensar diferente: uma mudança de mente?
- Lá vem você de novo com essa conversa de mudanças...
- Qual o problema? Você tem tanto medo assim?
- Não é medo. Não tenho medo de mudar... Acho apenas difícil ser diferente.
- Veja bem - falou Sávio num tom mais reflexivo - para ser diferente é necessário não permanecer igual: isso é mudar! Aliás, vale lembrar que o sentido nato da palavra mudar é trocar de lugar. Isso o incomoda muito, não é mesmo?
- Incomoda porque eu não quero trocar de lugar. As coisas sempre foram boas para mim...
- Que tal, ao invés de pensar no medo de trocar de lugar, ou até mesmo nas diferentes atitudes, você pensar na possibilidade de viver algo novo?
- Viver algo novo... Isso já soa melhor - Concordou Vital com um ar, de certa forma, aliviado.
- É claro. Viver algo novo é não viver aprisionado ao passado, e isso é caminhar para ser diferente.
- Mas, eu gostaria de viver algo diferente sem ter que, necessariamente, abrir mão de tudo o que vivi até agora!
- E não é exatamente assim - falou de maneira enfática Sávio - No entanto, se tudo estivesse perfeito você não teria esse anseio por ser diferente!
- Eu sei que posso ir mais adiante. Eu sei que existem coisas maiores e melhores que posso e até preciso experimentar na vida, mas...
- Mas, vai ser preciso mudar!
- De novo?
- De novo não... ainda. Você não está querendo lidar com esse pequeno detalhe que é fundamental.
- Ok. Então me diga: como é que eu poderia começar a mudar agora, neste momento. Mas, eu não quero deixar para trás as coisas que sempre funcionaram, que sempre deram certo...
- Mas, você não terá que deixar para trás o que está agora com você: o que não faz parte do seu presente é apenas o passado que, querendo ou não, já ficou para trás!
Coincidentemente, naquele momento, chegou novamente o garçom, desta vez, porém, trazendo o rosbife que haviam solicitado. Chegara também ali uma oportunidade metafórica para o que Sávio iria mencionar em seguida. Por isso, Sávio prosseguiu...
- Bem, primeiro você precisa saber aonde deseja chegar. Você já sabe de onde precisa sair: isso é bom! Pense nisso: você decidiu abrir mão dos bolinhos de bacalhau para experimentar o rosbife. Você não disse que fez isso porque os bolinhos estavam lhe fazendo mal - o que seria uma boa e legítima justificativa -, mas, no momento em que optou pelo rosbife, você deixou a experiência dos bolinhos no passado. Isso não faz sentido para você?
- Faz. Mas, eu não preciso olhar o meu passado para descobrir aonde quero chegar e se vou conseguir chegar lá? - Perguntou Vital como quem estava se abrindo para as possibilidades consideradas pelo amigo.
- Não. De forma alguma. A história da sua vida ajudou você a ser quem é hoje - ou foi até ontem -, mas a história em si não é você. Pelo menos não enquanto você estiver vivo. Você precisa saber é se tem forças e condições para dar os primeiros passos rumo ao seu propósito. A chegada é sempre o resultado de muitos e muitos passos, mas é um passo de cada vez.
- Tá certo, filósofo de boteco! - Isso foi um bom motivo para novas risadas descontraídas e relaxantes - Mas, onde eu desejo chegar parece um lugar tão inatinigível: é como se  fosse o lugar perfeito!
- Certamente é perfeito para você, e por isso deve ser o seu alvo, o seu objetivo, e tem a ver com crescer e ser melhor. Creio que foi Teresa de Ávila quem disse que uma vez que você saiba onde quer chegar, o se maior desafio será dar o primeiro passo. Mas, enquanto não tiver isso claro, você anda e se desgasta sem rumo e sem propósito.
- Então você acha que as coisas são simples assim? - Questionou Vital tentando trazer um realismo fatalista para a conversa.
- Bem, simplicidade é um dos grandes desafios da vida, sobretudo dessa vida corrida e cheia de complicações relacionais e tecnológicas. No fundo, a gente é que complica as coisas. Estamos sempre querendo alcançar o que sonhamos, mas também cedemos, muitas vezes, à pressão dos sonhos e aprovação dos outros: aí a vida fica complicada mesmo.

Vital pôs-se a olhar para fora do bar: as luzes, o movimento das pessoas e dos carros. Ficou bem pensativo e com ar bastante introspectivo . Sávio percebeu que lhe devia esse tempo diante de tudo o que havia sido colocado, mas, após alguns minutos, decidiu quebrar o silêncio...
- E aí... O que acha de tudo isso?
- Sabe de uma coisa? O que concluo dessa nossa conversa, que foi melhor do que eu esperava, é que vou ter mesmo que definir o meu alvo e partir pra isso!
- É isso aí. Esse é o princípio da reação...
- E tem que ser imediato - Interrompeu-o Vital, como quem acaba de fazer a opção pela mudança.
- Mas, pense bem numa outra coisa: qualquer que seja a sua escolha, lembre-se que deve visar o melhor para você e para os outros - Acrescentou oportunamente Sávio.
- Você não deixa escapar nada hein? - Considerou Vital amistosamente e tranquilo. 
- Então, que assim seja: viva a possibilidade de mudar! - Falou Sávio em tom festivo, erguendo o copo como propõe um brinde, e os copos de ambos se encontraram fazendo um belo tim-tim.

"Prestem atenção na maneira como vivem: que seja como sábios, 
aproveitando ao máximo cada oportunidade" (Efésios 5:15,16)


Nota: Os nomes não estão aí por acaso!

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