quinta-feira, 31 de maio de 2012
quinta-feira, 17 de maio de 2012
PARA DESTRUIR AS OBRAS DO DIABO
“Para isto o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do Diabo” (1 Jo. 3:8). Esta é uma declaração categórica das Escrituras acerca de um[i] dos objetivos do ministério de Jesus. É algo impactante, principalmente, ao levarmos em conta que João estava escrevendo para uma comunidade específica que parecia conviver com a presença de ensinos estranhos à fé cristã em seu meio. Assim, o apóstolo estava lançando luz nos princípios que deviam nortear a caminhada prática de fé daquele povo... e a nossa também.
A igreja deve assumir a continuidade do ministério de Cristo e manter firme o propósito de destruir as obras do Diabo, mas que obras seriam estas? Vejamos pelo menos algumas...
Jesus deixou claro que seu ministério continuaria na terra através da ação do Espírito Santo por meio da igreja (Lc. 24:45-48; At. 1:8; Jo. 14:15-17,26). Portanto, é preciso que saibamos discernir também os propósitos ministeriais da existência da igreja.
Destruir as obras do Diabo é também parte do objetivo ministerial da igreja em nossos dias. No entanto, é importante, para o propósito deste texto, que se entenda que, no que se refere ao ministério da igreja, trata-se de uma atitude concreta e sensata, e não meras declarações verbais abstratas e desprovidas de ações consistentes.
Diabo é um termo que vem do grego diábolos e significa basicamente “enganador”. O agente do mal identificado por este termo é aquele que peleja para manter a barreira de inimizade do ser humano para com Deus. Neste sentido, Jesus se manifestou para destruir todas as bases de sustentação dessa barreira e assim gerar a paz reconciliadora – é a essência da obra da cruz.
· Engano – Esta é a principal arma do Diabo. Não se trata de mentirinhas para brincar com a mente e a vida das pessoas - religiosas ou não. Antes, trata-se de enganos sedutores que tem aparência de bem-estar, felicidade permanente, riqueza fácil, sabedoria, status, fama, prazer imediato etc. No entanto, o fundamento da proposta é ilícito e até destruidor. A melhor maneira de discernir tal artimanha é encher-se do conhecimento da Palavra de Deus. Se não conseguirmos discernir o rumo dos caminhos adotados por nós, certamente, diante da Palavra, discerniremos os rumos especificados por Deus: segui-los é a melhor maneira de desativar a força de todo engano. Somos orientados a proteger a nossa mente com o “capacete da salvação”(Ef.6:17), o que só ocorre se estamos convictos da obra de Cristo por nós e em nós, fato que o Espírito de Deus solidifica em nós a partir da luz que lança sobre a Verdade transmitida pela Palavra de Deus na qual certamente cremos. Não se trata de conceitos que nos falaram para crer, mas do que a Boca de Deus pronunciou.
· Controle das pessoas pelo medo e pelo terror – Este tipo de ação pode visitar qualquer ambiente, até mesmo o religioso. Deus não aterroriza e nem ameaça. O Evangelho em Jesus é notícia boa! A vida que Deus proporciona em Cristo é vida abundante e o princípio de sua experiência é paz. A igreja, então, deve ser portadora da palavra e do viver libertador da paz. A igreja que vive como uma comunidade da esperança confronta todo tipo de ameaça à segurança das pessoas: faz parte de sua vocação profética, mesmo que tais ameaças e terrores partam de contextos religiosos até mesmo em seu meio. Não são poucos os vícios e as perturbações mentais que se originam em medos estabelecidos na mente (de ter o mesmo fim dos pais, de ser um fracassado, de morrer, de não casar, de ter doença incurável, de viver sozinho etc...). Se até a mente de “cristãos” viver perturbada e temerosa, não haverá o que proclamar aos “de fora”. Porém, o Espírito de Jesus por meio de seus discípulos proclama e ministra libertação à toda alma aterrorizada (Mt.11:28,29): pela firmeza na Verdade, pelo confronto a toda opressão espiritual e social, e pela vivência da esperança escatológica. Nosso ministério é trazer à tona a liberdade existencial e não outro tipo de aprisionamento. Na experiência de Jesus – dele e somente dele – encontramos o caminho da liberdade e segurança plena(Jo. 8:31,32)
· Sedução – Há um sistema de valores que sobrevive pela sedução. Este sistema é o que a Bíblia, sobretudo nos escritos de João, chama de “mundo” (um sistema que gera uma sociedade rebelde, governado pelo diabo, e que anda no sentido contrário a Deus – 1 Jo. 2:15-17). A sedução tem a ver com o poder de atração. Não somos atraídos pelo que não gostamos, nem pelo que não nos promete prazer. Portanto, a artimanha do Diabo é seduzir as pessoas – todas as pessoas – a partir de ofertas atrativas. Deus nos orienta, através do apóstolo, a “não amar o mundo”, isto é, não se apaixonar devotadamente pelas ofertas apetitosas deste sistema. E aí ele nos dá a dica do que é anti-Deus e domina este mundo: “o desejo desenfreado (cobiça) da carne, o desejo desenfreado (cobiça) dos olhos, e ostentação dos bens”. Tá muito bem especificado, não é mesmo? Logo, o estilo de vida da igreja que destrói as obras do Diabo se manifesta a partir de valores sólidos e permanentes que, naturalmente, confronta esta arma sutil do mal, principalmente nestes tempos de melhoria econômica, facilitação de crédito, redes sociais influenciadoras, e até de religião midiática. O exemplo de Jesus não é o de desenvolver um ministério aplaudido e desejado pela multidão, mas de, a despeito da desaprovação popular, destruir as obras do mal – sem barganhas!
- Separação – É uma estratégia do Diabo separar as pessoas: de Deus, e uma das outras. Esta sua investida está permeando todos os setores da sociedade. Valores como família, comunhão, partilha e até amizade duradoura estão sendo negociados senão abandonados por muitos. A base da separação? Inimizade e proteção de egos. Numa sociedade individualista e egocêntrica, separação é sinônimo de autonomia, e autonomia é assimilada como poder. Quanta distância dos princípios de Deus! A tecnologia que aparenta unir, separa: você entra em contato com as pessoas virtuais, mas não comunga, não partilha e não conhece as pessoas “reais” (estas são conhecidas no relacionamento constante e presencial). Sozinhos somos sempre mais fracos e presas fáceis para o deleite das feras. A igreja que virtualiza seus cultos e adoração corre o risco de desvirtuar os valores cristãos da edificação mútua e da comunhão koinônica (dos que tem tudo em comum, dos vínculos fraternos). Para destruir essas obras do Diabo é preciso exercer o ministério da reconciliação por meio da unidade, da permanência, do compromisso comunitário, da compaixão, do companheirismo etc. Na verdade a igreja – que supostamente já vive em comunhão – deve viver perto e entre as pessoas da sociedade e semear a [re]aproximação tal qual o exemplo do seu Senhor. O elo que destrói a separação é o amor – prático, perseverante e sacrifical - e contra este não há lei! Lembremo-nos que este amor é uma atitude, fruto de uma escolha pessoal e espontânea.
A lista das obras malignas pode se estender e muito. Porém, para um início de reflexão sobre o nosso ministério de destruir as obras do Diabo parece-me suficiente para este momento. Creio que o caminho e a direção estão facilitados. Vale a pena intensificar a oração e a disposição para seguir no rumo certo discernindo as artimanhas do maligno e as nossas atitudes apropriadas: um ministério naturalmente sobrenatural!
Graça, paz e vida plena!
Celso Tavares
[i] Fiz referência a “um” dos objetivos porque no próprio texto de 1 João 3 há uma declaração semelhante de outro dos seus objetivos (“...ele se manifestou para tirar os nossos pecados” – v.5), e em outros textos como Lc. 19:10 -“Pois o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido”..
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