quinta-feira, 17 de maio de 2012

PARA DESTRUIR AS OBRAS DO DIABO

 “Para isto o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do Diabo” (1 Jo. 3:8). Esta é uma declaração categórica das Escrituras acerca de um[i] dos objetivos do ministério de Jesus. É algo impactante, principalmente, ao levarmos em conta que João estava escrevendo para uma comunidade específica que parecia conviver com a presença de ensinos estranhos à fé cristã em seu meio. Assim, o apóstolo estava lançando luz nos princípios que deviam nortear a caminhada prática de fé daquele povo... e a nossa também.

Jesus deixou claro que seu ministério continuaria na terra através da ação do Espírito Santo por meio da igreja (Lc. 24:45-48; At. 1:8; Jo. 14:15-17,26). Portanto, é preciso que saibamos discernir também os propósitos ministeriais da existência da igreja.

Destruir as obras do Diabo é também parte do objetivo ministerial da igreja em nossos dias. No entanto, é importante, para o propósito deste texto, que se entenda que, no que se refere ao ministério da igreja, trata-se de uma atitude concreta e sensata, e não meras declarações verbais abstratas e desprovidas de ações consistentes.

Diabo é um termo que vem do grego diábolos e significa basicamente “enganador”. O agente do mal identificado por este termo é aquele que peleja para manter a barreira de inimizade do ser humano para com Deus. Neste sentido, Jesus se manifestou para destruir todas as bases de sustentação dessa barreira e assim gerar a paz reconciliadora – é a essência da obra da cruz.

A igreja deve assumir a continuidade do ministério de Cristo e manter firme o propósito de destruir as obras do Diabo, mas que obras seriam estas? Vejamos pelo menos algumas...

·         Engano – Esta é a principal arma do Diabo. Não se trata de mentirinhas para brincar com a mente e a vida das pessoas - religiosas ou não. Antes, trata-se de enganos sedutores que tem aparência de bem-estar, felicidade permanente, riqueza fácil, sabedoria, status, fama, prazer imediato etc. No entanto, o fundamento da proposta é ilícito e até destruidor. A melhor maneira de discernir tal artimanha é encher-se do conhecimento da Palavra de Deus. Se não conseguirmos discernir o rumo dos caminhos adotados por nós, certamente, diante da Palavra, discerniremos os rumos especificados por Deus: segui-los é a melhor maneira de desativar a força de todo engano. Somos orientados a proteger a nossa mente com o “capacete da salvação”(Ef.6:17), o que só ocorre se estamos convictos da obra de Cristo por nós e em nós, fato que o Espírito de Deus solidifica em nós a partir da luz que lança sobre a Verdade transmitida pela Palavra de Deus na qual certamente cremos. Não se trata de  conceitos que nos falaram para crer, mas do que a Boca de Deus pronunciou.
·         Controle das pessoas pelo medo e pelo terror – Este tipo de ação pode visitar qualquer ambiente, até mesmo o religioso. Deus não aterroriza e nem ameaça. O Evangelho em Jesus é notícia boa! A vida que Deus proporciona em Cristo é vida abundante e o princípio de sua experiência é paz. A igreja, então, deve ser portadora da palavra e do viver libertador da paz. A igreja que vive como uma comunidade da esperança confronta todo tipo de ameaça à segurança das pessoas: faz parte de sua vocação profética, mesmo que tais ameaças e terrores partam de contextos religiosos até mesmo em seu meio. Não são poucos os vícios e as perturbações mentais que se originam em medos estabelecidos na mente (de ter o mesmo fim dos pais, de ser um fracassado, de morrer, de não casar, de ter doença incurável, de viver sozinho etc...). Se até a mente de “cristãos” viver perturbada e temerosa, não haverá o que proclamar aos “de fora”. Porém, o Espírito de Jesus por meio de seus discípulos proclama e ministra libertação à toda alma aterrorizada (Mt.11:28,29): pela firmeza na Verdade, pelo confronto a toda opressão espiritual e social, e pela vivência da esperança escatológica. Nosso ministério é trazer à tona a liberdade existencial e não outro tipo de aprisionamento. Na experiência de Jesus – dele e somente dele – encontramos o caminho da liberdade e segurança plena(Jo. 8:31,32)
·         Sedução – Há um sistema de valores que sobrevive pela sedução. Este sistema é o que a Bíblia, sobretudo nos escritos de João, chama de “mundo” (um sistema que gera uma sociedade rebelde, governado pelo diabo, e que anda no sentido contrário a Deus – 1 Jo. 2:15-17). A sedução tem a ver com o poder de atração. Não somos atraídos pelo que não gostamos, nem pelo que não nos promete prazer. Portanto, a artimanha do Diabo é seduzir as pessoas – todas as pessoas – a partir de ofertas atrativas. Deus nos orienta, através do apóstolo, a “não amar o mundo”, isto é, não se apaixonar devotadamente pelas ofertas apetitosas deste sistema. E aí ele nos dá a dica do que é anti-Deus e domina este mundo: “o desejo desenfreado (cobiça) da carne, o desejo desenfreado (cobiça) dos olhos, e ostentação dos bens”. Tá muito bem especificado, não é mesmo? Logo, o estilo de vida da igreja que destrói as obras do Diabo se manifesta a partir de valores sólidos e permanentes que, naturalmente, confronta esta arma sutil do mal, principalmente nestes tempos de melhoria econômica, facilitação de crédito, redes sociais influenciadoras, e até de religião midiática. O exemplo de Jesus não é o de desenvolver um ministério aplaudido e desejado pela multidão, mas de, a despeito da desaprovação popular, destruir as obras do mal – sem barganhas!
  •              Separação É uma estratégia do Diabo separar as pessoas: de Deus, e uma das outras. Esta sua investida está permeando todos os setores da sociedade. Valores como família, comunhão, partilha e até amizade duradoura estão sendo negociados senão abandonados por muitos. A base da separação? Inimizade e proteção de egos. Numa sociedade individualista e egocêntrica, separação é sinônimo de autonomia, e autonomia é assimilada como poder. Quanta distância dos princípios de Deus! A tecnologia que aparenta unir, separa: você entra em contato com as pessoas virtuais, mas não comunga, não partilha e não conhece as pessoas “reais” (estas são conhecidas no relacionamento constante e presencial). Sozinhos somos sempre mais fracos e presas fáceis para o deleite das feras. A igreja que virtualiza seus cultos e  adoração corre o risco de desvirtuar os valores cristãos da edificação mútua e da comunhão koinônica (dos que tem tudo em comum, dos vínculos fraternos). Para destruir essas obras do Diabo é preciso exercer o ministério da reconciliação por meio da unidade, da permanência, do compromisso comunitário, da compaixão, do companheirismo etc. Na verdade a igreja – que supostamente já vive em comunhão – deve viver perto e entre as pessoas da sociedade e semear a [re]aproximação tal qual o exemplo do seu Senhor. O elo que destrói a separação é o amor – prático, perseverante e sacrifical - e contra este não há lei! Lembremo-nos que este amor é uma atitude, fruto de uma escolha pessoal e espontânea.

A lista das obras malignas pode se estender e muito. Porém, para um início de reflexão sobre o nosso ministério de destruir as obras do Diabo parece-me suficiente para este momento. Creio que o caminho e a direção estão facilitados. Vale a pena intensificar a oração e a disposição para seguir no rumo certo discernindo as artimanhas do maligno e as nossas atitudes apropriadas: um ministério naturalmente sobrenatural!

Graça, paz e vida plena!

Celso Tavares

[i] Fiz referência a “um” dos objetivos porque no próprio texto de 1 João 3 há uma declaração semelhante de outro dos seus objetivos (“...ele se manifestou para tirar os nossos pecados” – v.5), e em outros textos como Lc. 19:10  -“Pois o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido”..

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