quarta-feira, 13 de outubro de 2010

DESFERINDO GOLPES

Quanta pancadaria! Essa é uma expressão que traduz bem o espanto dos cidadãos de paz diante do que temos presenciado nestes dias, nos mais diversos setores da sociedade. Tem gente desferindo golpes violentíssimos pra tudo quanto é lado!
São políticos que se degladiam durante as campanhas eleitorais e até mesmo durante seus serviços patrióticos enquanto cumprem seus mandatos. São líderes religiosos agredindo uns aos outros publicamente e envolvendo – ou influenciando – seus leais seguidores. São militares que atacam os criminosos intensificando a crueldade ao “impor a lei” via violência e terror. São homens e mulheres que se agridem, e até matam, em casa e nas ruas semeando violência e vingança nos casamentos e na criação de filhos. São crianças, vítimas dessa situação toda, que atacam pessoas de quaisquer idades a fim de conseguir o que desejam obter, sem limites e nem consciência das conseqüências de seus atos para elas mesmas e para a sociedade. E assim vai... Ou, tem sido.

Estamos rodeados por um verdadeiro ringue onde o combate de egos se apresenta para todas as pessoas, não apenas para que assistam, mas, pior, para que os assistentes se estimulem a “pular pra dentro” e ajudar na pancadaria. Tanto o espetáculo quanto a sedução para o envolvimento tem sido feita através dos meios de comunicação e mídia mais variados: televisão, jornais, revistas, rádios e internet – essa última, então, onde tudo mundo é quase ninguém (por serem virtuais), tem sido o veículo-mor da propagação dos sons e imagens da violência. Usando o jargão do Boris Casoy: “Isso é uma vergonha!” Isso mesmo, afinal o que está por trás de todas as guerras que ocorreram e ainda ocorrem? Uma nojenta disputa de egos. Como escreveu Tiago, o apóstolo, “Se vocês abrigam no coração inveja amarga e ambição egoísta, não se gloriem disto, nem neguem a verdade. Esse tipo de ‘sabedoria’ não vem dos céus, mas é terrena; não é espiritual, mas é demoníaca. Pois onde há inveja e ambição egoísta, aí há confusão e toda espécie de males” (Tg. 3:14-16).

Em alguns momentos, chegamos até a propor piadas e diversão à custa deste cenário. Mas, que fique claro: isso não é motivo de diversão, nem é entretenimento. É coisa séria! Afinal, essa realidade ajuda a destruir a alegria de viver.

Fico pensando que existem, de fato, certos golpes que deveriam ser desferidos entre uns e outros, a fim de lidar com esse espírito de destruição que vigora neste nosso mundo. No entanto, não é bem um golpe que agride, fere ou mata. Mas um golpe que suscita paz, aliança, bem estar, alegria e vida. O golpe que Jesus Cristo desferiu sem retenção de munições: o poderoso golpe do amor. Parece até utópico, eu sei, mas é isso que move Deus e deveria mover as relações dos seres por Ele criados (ou dos cidadãos de bem, para os que não crêem nEle). Esse é o golpe que põe fim à arrogância dos violentos, aos destruidores da ética e da moral, ao apetite dos gananciosos e à crueldade dos malignos.
Durante o tempo da opressão da ditadura militar no Brasil, Geraldo Vandré compôs um hino (“Pra Não Dizer Que não Falei das Flores”) profético e revolucionário – o que lhe custou a liberdade – que entrou para a história como um clamor cantado e que, ainda, parece ser relevante para nossos dias. Preste atenção na força de suas palavras:
             Há soldados armados, amados ou não
             Quase todos perdidos de armas na mão
             Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição:
             De morrer pela pátria e viver sem razão...

             Nas escolas, nas ruas, campos, construções,
             Somos todos soldados, armados ou não,
             Caminhando e cantando, e seguindo a canção,
             Somos todos iguais, braços dados ou não...

Há uma possibilidade de mudar essa situação, nem que seja a partir da sua área de vivência e relacionamentos, cada um no seu quadrado: o amor é um dom divino ofertado gratuitamente a todos quantos o desejem. No pacto com Deus, e pela experiência relacional e pessoal com Jesus Cristo, o Espírito de Deus encharca os nossos corações com tal virtude (Rm.5:5). Daí em diante, o fruto é um estilo de vida dominado pelo amor. É algo extra-ordinário! Não apenas é possível, mas é um fato originado na palavra divina.

Então, o que uma geração deve passar à outra? A liberdade de uma opressão, oprimindo os outros? O bastão da conquista pela força do poder, da riqueza e da violência que mata e não expressa compaixão? Claro que não. Nossa geração precisa valorizar a vida – nossa e dos outros – preservando-a através dos golpes de amor incondicional que “não retribui mal por mal, não vinga, não pratica o mal contra o próximo (Rm. 12 e 13), e que “é paciente, é bondoso,não inveja, não se vangloria, não maltrata, não busca o seus póprios interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor, não se alegra com a injustiça, porque se alegra com a verdade, tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta” (I Cor. 13:4-7). Isso é o que precisamos fazer, semeando esperança e mudança para hoje e para o amanhã, à luz do que temos vivido até ontem. Ainda pensando nas palavras de Vandré...
             Os amores na mente, as flores no chão,
             A certeza na frente, a história na mão,
             Caminhando e cantando, e seguindo a canção
             Aprendendo e ensinando uma nova lição...


Se você me perguntar como é possível encarnar este estilo de vida, a minha resposta – para você e para mim – é simples e objetiva: dê uma considerável mirada na vida e na obra de Jesus Cristo: ele foi aqui na terra a expressão exata de Deus (Jo. 1:18), que é, em essência, todo amor (I Jo. 4:8), e oriente-se no sentido de imitá-lo a partir de sua própria motivação existencial.

Finalmente, não quero convidá-lo a atirar a primeira pedra, mas a desferir os primeiros golpes de amor. O momento de começar a mudança é agora. A primeira pessoa que deve agir assim é você. Aliás, toda mudança começa a partir de você mesmo. O resto (a não violência, a não propagação de imagens e sons violentos etc.) será apenas fruto do estilo de vida que, conscientemente, decidir abraçar. Afinal, “quem sabe faz a hora, não espera acontecer!”

Muita paz e alegria a todos!

Celso Tavares

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