quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

BEM AVENTURADOS OS SIMPLES!


Não é engraçado como gostamos de repetir frases famosas, ainda que não tenhamos compromisso com a proposta e realidade que elas nos transmitem? Algumas vezes as empregamos pelo impacto de suas palavras. Noutras, as usamos para ilustrar ideias e teses que nos propomos defender.

"Bem aventurados os simples", disse Jesus. Muitos de nós sabemos que ele estava descrevendo a essência do coração e do estilo de vida dos cidadãos do Reino de Deus. Mas, nem sempre nos lembramos de que esta característica é uma das consequências de se ter uma vida dominada pelo Espírito de Deus. Aliás, nem sempre parece que é um estilo de vida que somos orientados a adotar... mas é!

Pensemos seriamente numas questões:
   Por que não somos frequentadores e participantes assíduos das reuniões de edificação da igreja? Por que nos falta simplicidade.
  Por que não valorizamos com a devida consideração as oportunidades de encontros, confraternização e comunhão da igreja? Porque nos falta simplicidade.
   Por que não praticamos sistematicamente a disciplina da confissão mútua? Porque nos falta simplicidade.
   Por que não nos apresentamos prontamente para receber ministrações graciosas de cura e livramento quando nos são oferecidas, mesmo que estejamos necessitando de tais intervenções? Porque nos falta simplicidade.
   Por que não nos envolvemos pessoalmente no socorro ao pobre, doente, preso e necessitado? Porque nos falta simplicidade.
   Por que temos dificuldades em sermos hospitaleiros? Porque nos falta simplicidade.
   Por que temos dificuldades em sermos generosos, a despeito de nossas posses? Porque nos falta simplicidade.
   Por que não nos contentamos com um ensino objetivo e catequético - por repetições - como o que Jesus compartilhou? Por que nos falta simplicidade.
   Por que não nos aproximamos das pessoas ao nosso redor, sobretudo no ambiente da comunidade local, para estreitar os relacionamentos? Por que nos falta simplicidade.
   Por que temos tanto medo e receio de relacionar em profundidade com as pessoas? Porque nos falta simplicidade.
   Por que vivemos inquietos e ansiosos acerca dos recursos financeiros e materiais? Porque nos falta simplicidade.
   Por que não nos submetemos a um processo de discipulado, ou direção espiritual? Porque nos falta simplicidade.
   Por que temos dificuldades em nos render e entregar numa atitude de adoração e louvor cheia de fervor e espontaneidade? Porque nos falta a simplicidade.
   Por que temos tanta dificuldade em pedir perdão às pessoas, mesmo estando conscientes de que as ferimos? Por que nos falta simplicidade.
   Por que preferimos, tantas vezes, continuar sem entender um ensino, ao invés de pedir ajuda, explicação ou esclarecimentos? Porque nos falta simplicidade.
   Por que temos vergonha de pedir ajuda, mesmo material, quando dela necessitamos? Por que nos falta simplicidade.
   Por que não trabalhamos apenas para suprir nossas necessidades e ajudar aos necessitados? Por que nos falta simplicidade.
   Enfim, por que não somos mais simples? Definitivamente, porque nos falta simplicidade.


É claro que a lista de questões poderia seguir, talvez, quilometricamente. No entanto, aí estão algumas questões básicas que devem nos levar a pensar, meditar profundamente, e a reagir de acordo com nossa consciência cristã e com os valores do Reino de Deus que abraçamos, se é que de fato assim o fizemos.

A simplicidade não é um simples método de se combater os supérfluos que habitam nosso estilo de vida atual. Simplicidade é uma atitude profundamente espiritual. Ela nasce no interior, no coração, e ganha vida e forma em nossas escolhas. É uma atitude, acima de tudo, libertadora!

Quem anda no caminho do discipulado de Jesus, assim o faz porque o conheceu, experimentou o impacto da Verdade absoluta, e por ela foi liberto. Portanto, um discípulo de Jesus é um indivíduo "livre", e como tal pode e deve abraçar a vida simples.

Cultivar a simplicidade é descomplicar-se. É facilitar o acesso à vida "boa", vida abundante (Jo. 10:10) para si e para os outros. É vivenciar e modelar uma espiritualidade linda, acessível, profunda e atrativa. Esse é o modelo de Jesus.

Na simplicidade, a oração é simples, é curta, mas é honesta e intensa. Na simplicidade, a adoração é fácil e espontânea, mas é verdadeira e profunda. Na simplicidade, a pregação é básica e catequética, mas é fundamental e formativa. Na simplicidade, os cultos são encontros, mas são edificantes e transformadores. Na simplicidade, a generosidade é singela, mas é constante e significativa. Na simplicidade, a comunhão é natural e desinstitucionalizada, mas é vínculo, é relacionamento. Na simplicidade, a linguagem é despretenciosa, mas é saudável e restauradora. Na simplicidade, nada é mercado, mas tudo é serviço. Na simplicidade, igreja não é prédio, mas é gente que ama estar e caminhar juntos. Na simplicidade, santificação é vida natural e integral, não é lei nem dogma, mas é santa, e é encarnacional. Na simplicidade, o evangelho é Jesus, mas é seguido de discipulado e compromisso. Na simplicidade nenhuma obra é sacrifício, tudo almeja o amor.

Possivelmente, o simples não sabe que o é. Mas, por outro lado, quem não é sabe o que lhe falta. Essa é uma realidade nossa de cada dia. Na constatação de qualquer necessidade, devemos nos reconhecer como "necessitados", e ao assumirmos tal estado, precisamos correr em busca da correta provisão. Neste caso, a direção é clara: "Vinde a mim... Aprendei de mim que sou manso e humilde" (Mt. 11:28,29) - Jesus nos chama à ele mesmo: ele é o nosso referencial absoluto. Ele é a nossa cura e a nossa libertação. Aleluia!

Bem aventurados os simples... Definitivamente, bem aventurados!

Celso Tavares

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