terça-feira, 14 de junho de 2011

UMA BÊNÇÃO REAL COM UMA DEMANDA NADA VIRTUAL

"Todo mundo quer viver muuuito!.." De fato, o ser humano não foi criado para a morte, mas, segundo a Bíblia, para vida longa, longuíssima, eterna. E isso não seria graças à intervenções científicas ou cirúrgicas, não fosse o poder tão destrutivo do pecado(essa "realidade interior" que levou - e ainda leva - o ser humano a agir centrado em si - egocentricamente - resistindo a submeter-se à vontade e desígnios de seu Criador) que, após instaurar-se no coração humano, abriu as portas para a entrada do envelhecimento, do sofrimento e da morte no mundo. Essa vida eterna seria o natural, o perfeito. 

No entanto, mesmo com essa realidade caótica instaurada, Deus manteve o anseio pela longevidade no âmago do ser humano, e este continua buscando, de todas as formas, alguma maneira de alcançá-la - sobretudo no contexto religioso. 
"Deus... pôs no coração do homem o anseio pela eternidade;
mesmo assim ele não consegue compreender o que Deus fez." 
(Eclesiastes 3:11)

Vivemos uma geração "virtual". As duas últimas décadas foram reviradas pela transformação social provocada pelo mundo virtual, proporcionado pela internet, é claro. No entanto, por mais que isso facilite alguns tipos de relações e atividades, de maneira nenhuma substitui a essência relacional do ser humano: estar em contato "real" uns com os outros. 

Longevidade e comunhão, pelos princípios bíblicos, caminham de mãos dadas: "Como é bom e agradável quando o povo de Deus vive junto, em unidade... Ali o Senhor ordena a bênção da vida para sempre" (Salmos 133:1,3). Assim, a fé cristã, que tem como um de seus suportes a vida em comunhão, não pode ralear esse princípio sucumbindo-se ao que é proposto por essa "sociedade líquida"(usando aqui a terminologia do sociológo Zygmunt Bauman): promovendo relações virtuais, desprovidas de emoções, reconhecimento de caráter, de frutos de santidade e justiça, e de vida em comunidade visível e real.
O MITO DA COMUNHÃO VIRTUAL                                                        
Pensar que este universo virtual possibilite, ou facilite, a profundidade relacional entre as pessoas é, de fato, uma utopia ou, se preferir, um "mito". Parece-me que, nesse sentido, a reportagem da Revista Veja (Edição 2221, 15 de junho de 2011) sobre "Os 10 Mitos da Vida Longa" de Juliana Mariz, faz uma declaração acertada em seu mito número 7 (logo esse número hein?): "Pessoas Religiosas Vivem Mais". O texto da revista diz o seguinte: 
         "Na  'turma do Dr. Terman' havia católicos, luteranos e ateus. Pessoas pouco ou muito religiosas e com engajamento variável ao longo dos anos. Para Leslie e Friedman, rezar faz a diferença, mas não por motivos sagrados, que asseguram um lugar no céu. O que vale mesmo é ir à igreja, fazer parte da comunidade, estar com amigos. Ser religioso ajudou muitos dos personagens a romper os 90 anos - simplesmente porque, gregários, nunca pararam  de estimular as relações sociais. O sujeito que vê o culto na televisão, religiosamente, mas solitário, este não ganhará tempo extra na terra."

O termo "virtual", via de regra, pode ser traduzido por "algo que não existe como realidade, mas sim como potência ou faculdade; Uma simulação, o que nem sempre é verdade; Que não tem efeito atual". Há quem defenda a ideia de se usar em casos específicos, ao invés de "virtual", outros termos como "à distância" ou "remoto" para traduzir o sentido de virtualidade. Como se vê, o conceito de "superficialidade" está intrínseco nos conceitos descritos. 

Portanto, tenhamos não apenas o desejo de viver muito - nós e somente nós - mas, adotemos o cultivo sensato, verdadeiro e intenso da vida da igreja,  da comunhão, dos vínculos, do discipulado, da adoração, das amizades, da formação de líderes, do sentido de família etc.  Sejamos, à semelhança de Jesus, contracultura no sentido de promover a interação de coração, mente e alma - como o fizeram os primeiros discípulos, e não nos satisfaçamos com comunhões, ensinos e edificação (se é que exista!) virtuais. Não há exemplo algum de comunhão ou formação espiritual à distância na Bíblia: as distâncias eram sempre "encurtadas" pelos apóstolos/discípulos/missionários que eram enviados aos irmãos e irmãs em todos os lugares. A única palavra que Jesus enviou à distância foi para curar e libertar um indivíduo. Comunhão, discipulado, disciplina, avaliação, ensino e treinamento sempre foram ações "presenciais". Afinal, Cristianismo é "vida-na-vida"!

Nossas relações virtuais devem ser apenas acessórios circunstanciais para ajudar na sustentação de fundamentos onde e quando não houver mão de obra humana para servir... Caso contrário, são apenas rendição à superficialidade e ao vazio das vidas sociais e religiosas pós-modernas. Não é por acaso que, dentro e fora da igreja, a alma das pessoas tem berrado por verdadeiras amizades, expressões visíveis de compaixão e manifestações práticas e constantes de companheirismo. Se duvidar, pergunte a si mesmo que tipo de amizade você gostaria de ter e cultivar: virtual ou presencial? 


Então, no que depender de nós, caminhemos juntos, lado a lado, ao vivo e em cores, trilhando O Caminho, e espalhando as sementes da vida eterna por aqui e agora.


"Quão maravilhoso, quão belo, quando os irmãos e irmãs caminham juntos... É onde Deus comanda a bênção, ordena a vida eterna.
(Sl. 133:1,3 - Tradução da Bíblia "The Message" de Eugene Peterson)

Paz e alegria!

Celso Tavares

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