Um jovem, classe média(média alta?), num sábado bem cedo - pouco depois das 6h -, estava numa praça da zona sul de BH, tomando sua cervejinha(cedo, né?) e, ao me ver assentado e lendo, se aproxima e compartilha comigo o momento de sua vida: o valioso patrimônio que a mãe acabara de adquirir, a faculdade que, agora, estava decidido a conclui-la, embora há mais de uma semana não comparecia às aulas: é que ele estava peregrinando pelas festas que surgiam sequentemente. Ele disse que não dormia havia pelo menos uns três dias. É que na festa que havia ido numa daquelas noites, tomou umas e outras acompanhadas de uns "bons" comprimidos de êxtase e, por isso mesmo, ainda estava "ligado" até aquela manhã quando nos encontramos. Nos finalmentes de nossa conversa, veio a declaração despretensiosa: "Sou um cara muito sozinho, mas eu vou dar um jeito na minha vida!" Um suspiro honesto por amizade, esperança e vida.
Tomei o elevador - descendo - de um prédio na região oeste da cidade. Num dos andares entrou um homem, cerca de 55 anos, trajando uma roupa mais informal, quase esportiva. Isso foi por volta das 18h30 de uma terça feira. Após nos comprimentarmos, ele observou que estava um belo dia e perguntou se eu estava saindo para dar umas volta ou o que. Bem, eu disse que estava indo fazer algumas coisas, e depois seguiria para casa. Então ele compartilhou sobre o que estava a caminho de fazer: "Estou indo para o bar..., onde frequento há mais de 15 anos neste mesmo horário, tomar uma cervejinha e conversar com os amigos que aparecerem por lá. Isso é sagrado para mim!" Ele demonstrou claramente duas coisas: abertura para conversar, e a consciência de necessitar de "amigos" e um "bom bate-papo" (algumas coisas que, algumas vezes, aprecem faltar em casa).
Uma moça, por volta dos 19(talvez 20) anos de idade, que mora na região norte de BH, disse que precisava bater um papo comigo. Ela estava prestes a frequentar uma igreja evangélica, mas gostaria de conversar com alguém que pudesse dialogar honestamente sobre seus dilemas(Por que eu? Vá saber!). Então, compartilhou sobre sua vida, suas crises, seu fim de namoro conturbado, seus quase novos romances, sua faculdade - a relação com os amigos de lá sempre concentrada nas festas e viagens; seu trabalho com oporunidades profissionais e assédios, e sua busca por respostas para as suas questões mais íntimas através de terapias e da "espiritualidade"(nada a ver com igreja, neste ponto!). O que ela expressou explicitamente foi: "O que eu sei que tenho é um desejo de me encontrar: saber que rumo eu devo tomar na vida para ser feliz!" Interessante questão hein?
Aí, numa manhã dessas, eu estava a caminho do escritório, quando parei o carro num certo lugar(eu tinha avistado um desses bancos de jardins próximo à rua), estacionei, e desci com meu bloco e minha caneta para anotar algumas coisas que me vinham à mente e que não gostaria de deixar passar. Não podia esperar até chegar ao computador. Minutos depois, apareceu um cachorrinho, bonitinho e de raça(não sei qual!), gostou de mim, da companhia, ou sentiu algum cheiro especial(eu faço questão de andar cheiroso, viu?), falei para ele se assentar, e ele obedeceu. Pensei: "Só me faltava essa!". Foi aí que uma senhora idosa veio caminhando, segurando o seu cachorro(na verdade, era elequem a estava puxando!), comprimentou-me, e perguntou sobre o cachorro, que àquela altura já estava "flertando aos cheiros" com a cadelinha da dona. Eu contei a história do cachorrinho, e ela, de maneira natural como se me conhecesse há muito tempo, começou a contar a história da vida dela e, principalmente, dos últimos dois dias: estava com febre, mal estar, os receios que teve durante a noite, muita fraqueza etc... Mas, como ficava sozinha, nas manhãs ela precisava sair de casa para fazer uma caminhada com sua "amiguinha", caso contrário a cadelinha ficava insistindo perseverantemente(noutras palavras: enchendo a paciência!) Conversamos um tempinho bom, e ela saiu com um sorriso agradável, desejando que Deus me abençoe(amém!), me deixou mais feliz e, ao mesmo tempo, surpreendido pela sensação de ter sido uma simples companhia, ouvidos disponíveis, com poucas palavras encorajadoras(não precisou de muito!), e a convicção de estar no lugar certo, na hora certa: assim caminha a humanidade... E assim vamos percebendo a vida na cidade!
Há certas coisas em comum na vida dessas pessoas - e talvez nas nossas -, que, se observadas com atenção, nos dão dicas (berram!) sobre as necessidades existenciais dos moradores da cidade, qualquer que seja a região ou a faixa etária, e apontam para onde devemos concentrar nossos esforços e iniciativas:
- Uma verdadeira sede por relacionamentos (honestos e profundos)
- A solidão do coração escancarada
- O anseio por algum tipo de "cura"
- A busca constante por soluções - o que estiver ao alcance!
- Incertezas, medos e inseguranças
- Uma verdadeira necessidade de Deus - não dos conceitos sobre Ele, mas de uma relação viva com Ele.
Eis aí o chamado para ministrar(palavra que é traduzida melhor por "servir") à nossa cidade: Isso pode, realmente, ser feito por nós? Deus quer. E você?
Grande abraço com muita paz e esperança!
Celso Tavares
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